Talvez você já tenha
ouvido falar em The Strain, já que no ano passado estreou uma série com esse
nome, baseada nos livros que irei comentar. Pois bem, The Strain (utilizarei o
nome original durante a resenha) é uma trilogia criada pelo escritor Chuck
Hogan em parceria com o cineasta Guillermo Del Toro. Confesso que não conhecia
Chuck Hogan e quem realmente me atraiu a ler os livros foi Del Toro, já que é
meu cineasta favorito.
Lançada entre os anos de
2009 e 2011, a trilogia trata de vampiros, porém com uma abordagem bastante
diferente. São vampiros extremamente animalescos e instintivos, bastante
diferentes dos vampiros humanizados tão presentes na cultura popular dos dias
de hoje. O modo de contágio e sua proliferação, a propósito, podem ser
associados mais a zumbis do que à corriqueira mordida de um vampiro. Isso
porque o que causa a transformação de um humano em um “monstro” é uma espécie
de verme que penetra no corpo da vítima, tornando-a um hospedeiro e a
modificando. Sua forma de sugar o sangue é também diferente e acontece através
de um ferrão preso à garganta das criaturas e que as deixa bastante parecidas
com alguns dos vampiros de Blade II (dirigido, afinal, por Del Toro). É claro
que por trás de tudo isso há um “Mestre”, o primeiro de seu tipo e aquele que
comanda todos os outros. A história por trás do Mestre é interessantíssima e
muito bem trabalhada, sendo apresentada ao leitor apenas no último volume da
trilogia.
O grupo de heróis da
trama é também muito interessante e bem variado, incluindo médicos da famosa
CDC (Centers for Disease Control and
Prevention, o órgão público responsável pela saúde nos Estados Unidos), um
exterminador de ratos, um velho estudioso que é a chave de toda a história e um
jovem latino preso em meio às faltas de oportunidade no coração de Nova York.
As relações são bem articuladas e os personagens reagem de formas diversas a
todo esse novo panorama. Em contrapartida, temos os vilões principais da corja
do Mestre, incluindo um astro do rock com direito a muita maquiagem.
Outra
coisa que difere das histórias de vampiro convencionais é que o Mestre quer “conquistar
o mundo” (olá Pink e o Cérebro), utilizando-se de todos os meios possíveis,
incluindo uma associação com um magnata americano. Dessa vez não temos vampiros
escondidos nas sombras em busca de alimento apenas. Há todo um plano de
conquista e domínio da raça humana.
Paralelamente
à história principal, acompanhamos a infância e juventude de Abraham Setrakian
(o velho citado anteriormente) na Romênia, sua cidade natal, onde entra em
contato pela primeira vez com o Mestre e sua corja de Strigoi (“tipo” de
vampiro presente nas lendas do Leste Europeu e que é a base para os vampiros
dessa série). O desenrolar da história envolve ainda um pouco de nazismo
(Setrakian fora preso em um campo de concentração durante a II Guerra) e as
consequências de procurar o Mestre a todo custo.
O
que chama muito minha atenção nessa trilogia é o fato de que o final não é
extremamente clichê, do tipo “o bem vence o mal e os mocinhos (sobre)vivem
felizes para sempre”. Tudo bem, não posso negar que é um final positivo, mas o
desenrolar da história trás algumas surpresas, influências aterradoras, mortes
inesperadas e mudanças no eixo de protagonistas.
Os
três volumes da série são bastante fáceis de ler e fluem muito rápido. Foram
lançados no Brasil pela Rocco e podem ser encontrados facilmente em qualquer
livraria. Quanto à série lançada recentemente pela FX, podemos dizer que sua
primeira temporada fora bastante fiel aos livros. Afinal, Del Toro e Chuck
Hogan são os produtores da mesma, acompanhando de perto seu desenvolvimento
(foi Del Toro quem dirigiu o piloto). Isso não impede que algumas mudanças
aconteçam, como um personagem que no livro é descrito diversas vezes como
latino e muito forte, mas na série se tornou negro e magrelo. Vai entender. A
segunda temporada tem tomado um rumo bastante diferente dos livros, porém essas
mudanças são completamente plausíveis dentro do contexto criado pelos
escritores. Nada absurdo como um romance anão-elfa em meio a Terra Média.
A
intenção é de que a série divida os três livros em cinco temporadas. A primeira
foi lançada em 2014 e a segunda está agora no ar (segundo semestre de 2015).
Não posso afirmar que a
trilogia The Strain tenha um lugar entre meus livros favoritos, mas também não
posso descartar sua qualidade. De
qualquer forma, vale a pena ler. Definitivamente é uma boa alternativa no
catálogo de “vampiros modernos” desse século. Eles sim, podem ser chamados de
vampiros.
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