quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Indicação cinematográfica: Jack e a mecânica do coração: um tesouro da animação musical



      Procurando o que assistir na netflix, me deparei com a animação francesa “Jack e a mecânica do coração” (do original Jack et la mécanique du coeur), lançado em 2013. Decidi assistir simplesmente porque a estética do pôster me chamou a atenção (abaixo).




         Pois bem, a animação, que é totalmente feita para adultos (o que deve ficar bem claro ao se assistir), conta a vida do garoto Jack, que nasceu no dia mais frio de todos (ever). Por causa disso, a parteira acaba por ter que trocar seu coração, que nascera congelado, por um relógio. Percebendo que essa parteira – que também é uma espécie de cientista - sonhava em ter um filho, e frente às dificuldades que viu que teria com essa criança especial, sua mãe o abandona para que seja criado pela outra. Assim, Jack cresce tendo que seguir três regras fundamentais, das quais nunca se apaixonar é a mais importante de todas. É claro que a trama vai se desenvolver acima dessa questão.

          A estética do filme me lembra muito jogos de videogame, com um bom bocado de elementos steampunk (as engrenagens estão por todos os lados), uma pitada do visual de Tim Burton, cenários circenses e uma simplicidade adorável. O filme trata de seus assuntos de forma delicada e aconchegante e, acima de tudo, não se prende ao convencional.

         A história, aliás, foi criada baseada em duas obras: a graphic novel La Mécanique du cœur do francês Mathias Malzieu, e no álbum conceitual da banda do mesmo, chamada Dionysos. Inclusive toda a trilha do filme foi composta pela banda. E isso a torna muito especial. Apesar da trama se passar no final do século XIX, as músicas são modernas; uma delas tem uma pegada punk clássico e serve de trilha para uma cena dentro de um trem fantasma. É sensacional. Outra delas, a canção do “vilão” (o bully que tormenta a vida de Jack na escola) é certa forma de rap-poesia sobre uma batida de beat-box. As canções de casal Jack e Miss Acacia (a garota que faz suas engrenagens entrarem em parafuso, com o perdão do trocadilho) são leves, doces e muito adoráveis.

        No decorrer do filme nos deparamos com cenas de teores diversos, desde cenas bizarras onde Jack é perseguido por seu xará Jack, o Estripador, a cenas onde um mágico se apaixona pelas gêmeas siamesas do circo em que se encontram. É muito importante dizer que o filme é todo construído de forma muito simbólica e sentimental, não é preso a convenções e muito de sua doçura se deve aos detalhes. Uma análise psicanalítica renderia muitas páginas sobre a obra em questão.

      Recomendo àqueles que gostem de filmes diferentes, que apreciem detalhes e música e, mais que tudo, que entendam que o mundo é muito mais diverso do que conhecemos – e nem sempre feliz.




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