A resenha de hoje se da mais a
respeito de um autor e sua obra em geral do que apenas um livro. E o autor em
questão é o galês Arthur Machen. Provavelmente você se perguntou “quem?”, e
essa é a questão. Machen é um dos grandes nomes da literatura de horror do
final do século XIX e início do XX, mas, infelizmente, no Brasil ele é bastante
desconhecido.
O conto mais significativo do autor se
chama The Great God Pan (1894) e,
obviamente, não há publicação brasileira. As opções são ler o original ou
comprar a versão importada de Portugal.
The Great God Pan trata de um mistério que circunda uma garota desde sua
infância até a vida adulta, onde o autor a relaciona com horrores inomináveis,
porém nunca os descreve. O conto todo é enuviado por esse mistério de quem é
realmente essa mulher e o que tanto ela faz. O final da história junta os
pontos e conclui o mistério de forma bastante satisfatória. Por ser um texto
curto (na minha versão há cerca de 60 páginas), muita coisa é deixada no ar
pelo autor. Por exemplo, muitos dos horrores praticados pela moça são apenas
sugeridos, fazendo com que o leitor preencha essa lacuna com os horrores que
vierem à sua mente. Todo tipo de medo e experiência é cabível ali. São experiências
transcendentais e inconcebíveis. Toda essa trama é mostrada através da voz de
diferentes personagens, que presenciam ou descobrem cada uma das partes desse
quebra-cabeça que vai se formando em frente ao leitor e que culmina em uma
imagem terrível. A obra é ainda apresentada pelos contrastes entre homens
afortunados que vivem no melhor da sociedade com a natureza crua dos bosques e
símbolos pagãos.
The Great God Pan é considerada uma das melhores histórias de horror de todos os tempos e
é, aliás, influência para muitos outros autores bem mais conhecidos para nós. É
o caso de H. P. Lovecraft. Lovecraft sempre deixou muito claro que o autor
galês era um de seus autores favoritos e uma de suas influencias diretas. Seu
conto O horror em Dunwich foi
diretamente influenciado por The Great
God Pan, e só lendo os dois podemos ver o quanto essa influência é aparente
(digo isso para evitar spoilers que acabariam com a graça de ambas as leituras).
É muito difícil falarmos de Lovecraft sem citar a influência de Machen, ela é
uma das bases fundamentais para o horror lovecraftiano que conhecemos. Além
dele, Stephen King e Jorge Luis Borges também estão entre os declaradamente
influenciados por Machen. E além de influenciar personalidades da literatura,
Machen atraia a atenção de alguns ocultistas, como o famoso Alesiter Crowley,
que dizia adorar o trabalho misterioso do escritor. O próprio Machen tinha um
pé no misticismo, que acabava, consequentemente, refletido em seus textos.
Apesar de deveras desconhecido por
nosso país, há uma única e singela publicação de seu trabalho por aqui. O
volume se chama O Terror e contêm o
conto que da nome ao livro e mais alguns textos curtos que compõe um conjunto
intitulado Ornamentos em Jade. Foi
lançado pela Editora Iluminuras e pode ser encontrado em praticamente qualquer
livraria. É um bom começo para conhecermos a obra do autor, O Terror é muito interessante e segue a
premissa de mistério durante todo o livro e um final que o desvenda de forma
surpreendente. Machen sabe trabalhar muito bem com esse tipo de suspense. A
trama se passa durante uma guerra e evidencia muito bem a relação, não tão
afetiva, do ser humano com a natureza. Assim como em The Great God Pan e O Terror,
grande parte de seus textos passeia por campos e florestas; a natureza é muito
presente em suas obras e Machen nunca se desprende de sua herança celta.
Arthur Machen e seu The Great God Pan fazem muita falta nos
catálogos das editoras que publicam o gênero do horror no Brasil. É triste que
ele fique de fora em meio a tantos outros que são publicados. Deixo como
sugestão que uma obra nova do autor seja editada, onde o título em questão seja
o foco. Arthur Machen é bom, é uma peça-chave na literatura e seria maravilhoso
se tivesse seu nome honrado pelos campos verdejantes do Brasil que, se
conhecidos pelo autor, gerariam novos textos cheios suspense e aflição circundados
pela natureza.
Para ler The Great God Pan (em inglês) clique aqui.
Para ler The Great God Pan (em inglês) clique aqui.
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