sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Resenha: Por um bom Brasil que conheça Arthur Machen




A resenha de hoje se da mais a respeito de um autor e sua obra em geral do que apenas um livro. E o autor em questão é o galês Arthur Machen. Provavelmente você se perguntou “quem?”, e essa é a questão. Machen é um dos grandes nomes da literatura de horror do final do século XIX e início do XX, mas, infelizmente, no Brasil ele é bastante desconhecido. 

Da um oi pra ele






O conto mais significativo do autor se chama The Great God Pan (1894) e, obviamente, não há publicação brasileira. As opções são ler o original ou comprar a versão importada de Portugal. The Great God Pan trata de um mistério que circunda uma garota desde sua infância até a vida adulta, onde o autor a relaciona com horrores inomináveis, porém nunca os descreve. O conto todo é enuviado por esse mistério de quem é realmente essa mulher e o que tanto ela faz. O final da história junta os pontos e conclui o mistério de forma bastante satisfatória. Por ser um texto curto (na minha versão há cerca de 60 páginas), muita coisa é deixada no ar pelo autor. Por exemplo, muitos dos horrores praticados pela moça são apenas sugeridos, fazendo com que o leitor preencha essa lacuna com os horrores que vierem à sua mente. Todo tipo de medo e experiência é cabível ali. São experiências transcendentais e inconcebíveis. Toda essa trama é mostrada através da voz de diferentes personagens, que presenciam ou descobrem cada uma das partes desse quebra-cabeça que vai se formando em frente ao leitor e que culmina em uma imagem terrível. A obra é ainda apresentada pelos contrastes entre homens afortunados que vivem no melhor da sociedade com a natureza crua dos bosques e símbolos pagãos.

The Great God Pan é considerada uma das melhores histórias de horror de todos os tempos e é, aliás, influência para muitos outros autores bem mais conhecidos para nós. É o caso de H. P. Lovecraft. Lovecraft sempre deixou muito claro que o autor galês era um de seus autores favoritos e uma de suas influencias diretas. Seu conto O horror em Dunwich foi diretamente influenciado por The Great God Pan, e só lendo os dois podemos ver o quanto essa influência é aparente (digo isso para evitar spoilers que acabariam com a graça de ambas as leituras). É muito difícil falarmos de Lovecraft sem citar a influência de Machen, ela é uma das bases fundamentais para o horror lovecraftiano que conhecemos. Além dele, Stephen King e Jorge Luis Borges também estão entre os declaradamente influenciados por Machen. E além de influenciar personalidades da literatura, Machen atraia a atenção de alguns ocultistas, como o famoso Alesiter Crowley, que dizia adorar o trabalho misterioso do escritor. O próprio Machen tinha um pé no misticismo, que acabava, consequentemente, refletido em seus textos.

Apesar de deveras desconhecido por nosso país, há uma única e singela publicação de seu trabalho por aqui. O volume se chama O Terror e contêm o conto que da nome ao livro e mais alguns textos curtos que compõe um conjunto intitulado Ornamentos em Jade. Foi lançado pela Editora Iluminuras e pode ser encontrado em praticamente qualquer livraria. É um bom começo para conhecermos a obra do autor, O Terror é muito interessante e segue a premissa de mistério durante todo o livro e um final que o desvenda de forma surpreendente. Machen sabe trabalhar muito bem com esse tipo de suspense. A trama se passa durante uma guerra e evidencia muito bem a relação, não tão afetiva, do ser humano com a natureza. Assim como em The Great God Pan e O Terror, grande parte de seus textos passeia por campos e florestas; a natureza é muito presente em suas obras e Machen nunca se desprende de sua herança celta.

Arthur Machen e seu The Great God Pan fazem muita falta nos catálogos das editoras que publicam o gênero do horror no Brasil. É triste que ele fique de fora em meio a tantos outros que são publicados. Deixo como sugestão que uma obra nova do autor seja editada, onde o título em questão seja o foco. Arthur Machen é bom, é uma peça-chave na literatura e seria maravilhoso se tivesse seu nome honrado pelos campos verdejantes do Brasil que, se conhecidos pelo autor, gerariam novos textos cheios suspense e aflição circundados pela natureza.  



Para ler The Great God Pan (em inglês) clique aqui.

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