quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Sobre séries: a série que deixei de gostar: Sons of Anarchy (contém spoilers)



Antes de qualquer coisa devo admitir: esse post vai ser polêmico. Isso porque Sons of Anarchy é uma série idolatrada por todos os cantos e tem fãs pra lá de xiitas. De qualquer forma, não posso a deixar de fora de meus posts.







            Para quem não conhece, essa é uma série criada em 2008 por Kurt Sutter, e retrata a vida de membros de um moto clube fictício e suas respectivas famílias. A trama se passa na também fictícia cidade de Charming, localizada na Califórnia. O protagonista, Jax Teller,  interpretado por Charlie Hunnam (de Hooligans e Pacific Rim) é  um dos membros do clube e filho de um de seus fundadores; vive no momento da série junto de sua mãe, Gemma (interpretada pela mulher de Sutter, Katey Sagal), e seu padastro, Clay (Ron Perlman, o etern Hellboy), também fundador do clube. Sons of Anarchy MC possui uma mecânica de fachada, porém sua real atividade é o tráfico de armas. Isso faz com que tenham relações e tensões com membros de outros grupos como gangues de latinos, negros, nazistas e até o IRA do outro lado do oceano.

            As tramas de todas as temporadas da série sempre contêm esses elementos: compra e venda de armas, tiroteios, brigas, a polícia enfrentado o clube, strippers, bromance, cenas de sexo de Jax, mais brigas, a polícia ajudando o clube, drogas, torturas e mortes (muitas). Claro que há espaço para alguns romances e momentos e família que nunca acabam bem. Suas primeiras temporadas são inegavelmente boas. A série a princípio é muito violenta, mas boa. As tramas eram inteligentes e nós torcíamos pelos bandidos, que no caso eram os protagonistas da série. Havia ainda uma pitada de humor negro que perdurou até a última temporada e era genial. A cada episódio era uma nova emoção e tensão até o fim dos seus 40 minutos e pouco. Algo que foi muito interessante durante a série foi o desenvolvimento dos personagens, principalmente de Jax, que ao fim da última temporada havia se transformado naquilo que sempre odiou. Eu gostava tanto da série que tinha inclusive um pôster em meu quarto, além de ser, até hoje, administradora de seu grupo no Facebook. Esse contato tão próximo com a série talvez tenha feito com que, após conhecê-la tão bem, eu mudasse de ponto de vista.

            O que acontece é que chegou um momento em que o rumo que as coisas tomaram começou a me desagradar profundamente. Inclusive dessa vez não poderei poupar spoilers. A trama da sexta e penúltima temporada focou muito na questão da vida pessoal de Jax, com sua esposa Tara cansada de, junto de seus dois filhos, ser colocada em segundo plano. Por causa disso ela bola um plano mirabolante para fugir da cidade junto dos filhos e tenta obter uma ordem de restrição contra o marido para que esse nunca vá atrás dela. Isso fez com que todos ficassem com muito ódio dela, sim. Porém o final que foi a dado foi a gota d’agua para mim. Sua morte, pelas mãos de Gemma, foi extremamente brutal. Uma violência sem precedentes que NUNCA pode ser justificada. E o que me desgostou mais ainda foi ver fãs da série aprovando essa violência. Me cansei de ler frases como “ela mereceu”. Ninguém merece ser morto a garfadas na cabeça, ninguém.

            Depois desse fato, a temporada seguinte simplesmente terminou de afundar a série. Tenho que confessar que esse assassinato já havia feito com que eu desanimasse de assisti-la, porém a última temporada foi tão forçada e mal feita que não tive nem que me esforçar. A violência, que já era fortíssima nas outras temporadas, tomou proporções absurdas, a ponto de termos quase um tiroteio cheio de mortes por dia na pequena e pacata cidade de Charming. O que antes era tratado de forma cuidadosa pela produção começou a ser exibido de qualquer jeito, como se simplesmente quisessem que ela terminasse logo. Foi uma temporada desleixada, deixando a muito a deseja e pior, subestimando a inteligência de seu público. Essa temporada, apesar de todas essas falhas, concluiu a série de forma satisfatória, do jeito que deveria ter terminado. O que foi realmente ruim foi sua execução.

            Eu percebo que mesmo com todas essas falhas dessa última temporada, a maior parte dos fãs da série não deixou de idolatrá-la por sequer um minuto. Quase todos os dias vejo homenagens, tatuagens e camisetas personalizadas com o logo da série por ai. Realmente, a paixão por uma série não deve morrer por tão pouco, se você assim o considerar. Mas para mim, foi uma junção de elementos que fizeram com que eu perdesse a vontade de assisti-la novamente. Entre esses elementos, foi a saturação da violência. Apesar de muito presente na vida humana, não devemos toma-la tão naturalmente como a série enfia por nossas gargantas. Eu acredito, sim, que isso possa influenciar as cabeças mais fracas. Já presenciei casos desse tipo, ainda que com outras séries. Hoje prefiro evitar esse tipo de situação, porém sem me arrepender de ter seguido essa série.

Outra coisa que me irritou com o tempo foi a forma como os personagens dessa série lidam com problemas. Alguém te irritou? Mata. Te passou a perna? Mata. Seu padrasto te traiu? Mata. Sua mãe matou sua mulher? Mata. Essa é a única solução viável para o MC. E é muito irritante. Parece que estou assistindo uma série situada na idade das pedras e não havia diálogo nem opções. Não tenho prazer em ver uma série onde todos os personagens são impulsivos, atiram antes e perguntam depois. A realidade não é assim. Nem no Datena é assim. E me cansou.

            Não se pode, porém, ao se falar de Sons of Anarchy, deixar de lado sua trilha sonora. Toda produzida em canções que passam pelo country, folk, rock e até rap, ela é impecável. Descobri bandas excelentes e canções fenomenais por meio dela. Eu diria, hoje, que a trilha sonora de SoA é seu grande ponto forte.

            Por fim, esse é apenas o relato de como uma série que já foi minha favorita se transformou em objeto de aversão. Não tiro seu direito de amá-la mesmo assim. Se ainda não assistiu, e depois de todos esses spoilers ainda o quiser fazer, vá em frente que não será tempo perdido. Agora, se quer uma série não tão violenta para gastar seu tempo livre, leia minhas outras sugestões. 



13 comentários:

  1. Nathalia boa tarde, acredito que como eu você assistiu todas as temporadas e viu que o andar da carruagem da série foi ficando mais violenta, pois o clube foi cada vez mais se afundando mais em coisas erradas mesmo com o Jax se esforçando para tentar deixar o clube limpo. E como qualquer um sabe, quanto mais coisas erradas você está envolvido mais consequências terão. Não concordo com a parte da violência ficar exacerbada, pois Sutter relatou bem isso o clube tinha comprado briga com diversas facções mais poderosas que os próprios e obviamente isso não poderia ser resolvido em um papo numa mesa de bar.
    A respeito da Gemma, Sutter passou a série inteira mostrando pra gente que é uma mulher impulsiva e descontrolada sempre trazendo algum tipo de problema para sua familia e o clube. Gemma sempre superprotegeu sua família e ao saber que Tara tinha feito aquela traição Gemma movida sempre pelo impulso fez o que fez.

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    1. Oi Gabriel! Obrigada por comentar. Então, realmente, concordo com o que você diz, mas pra mim eles usaram esse excesso de violência pra tapar buraco na série sabe? Faltava roteiro, colocava outro tiroteio. Também concordo isso da Gemma, só discordo que o Jax matá-la fosse a melhor opção. Manda a mulher pra Indonésia, sei lá. Manda pra prisão, não simplesmente matar entende? Mas como eu disse, você tem todo o direto de discordar :)

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    2. A questão do Jax matar a Gemma a principio me pareceu "forçado", mas refletindo sobre isso algum tempo depois eu percebi que acabou sendo fundamental, Jax fez aquilo que estava sabia fazer, foi o ato final de violência do monstro que ele se tornou.
      Claro é só a minha opinião, mas não consigo deixar de pensar que a série foi a nivel Breaking Bad de genialidade.

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    3. Ah sim, com certeza, na cabeça do Jax era a única opção (infelizmente haha)

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  2. É o primeiro post que eu leio desse seu blog e como é legal encontrar alguém que consegue tem um bom senso sobre SoA e já foi fã anteriormente. O Kurt Sutter, apesar de ser um cara que planeja as coisas - segundo o que o mesmo dizia - é um cara extremamente repetitivo. Não apenas em repetir plots (como sempre possuir os acordos entre gangues, intrigas no club, etc), mas também em diálogos onde os personagens pareciam falar sempre da mesma forma. E um dos maiores problemas pra mim é que nas últimas temporadas a violência aumentou, o nível de consequência também aumentou, mas os personagens - e por tabela, quem assistia - não possuía tempo pra digerir os acontecimentos. SoA era uma série onde poucos dias se passavam, tinha episódio que se passava em um só dia - como ocorreu na finale - e é realmente um absurdo pensar no tanto de violência que ocorria em Charming em tão pouco tempo. Um bom exemplo de série que sabia lidar com passagem de tempo e violência em bom tom era Breaking Bad que não tinha medo de ter seus momentos brutais, mas também tinha noção em desenvolver a influência dos acontecimentos em cada personagem.

    Às vezes eu acho que o problema foi a série ter se alongado demais. Com toda a história da Gemma no final da sétima e o Jax caçando outros grupos por vingança, senti que a série deveria ter sido sempre sobre o conflito entre Jax e Clay. O final da série deveria ser sobre isso, sobre aquela ideologia de John Teller pipocando na mente do Jax enquanto esse tenta mudar os rumos do clube com um Clay implacável e filho da puta enchendo o saco. Ideologia é o que faltou, ainda mais na última temporada, que resgatou isso nos 45 do segundo tempo no episódio final onde Jax resolve se "redimir" e tentar amarrar as pontas.

    De qualquer forma, acho SoA acima da média se comparado com várias séries que tínhamos e temos por aí, mas acho que existe um fanboyzismo muito grande envolvendo ela. A série possuí suas falhas, só precisamos de mais fãs para perceber isso. Porque, tipo, ser fanboy não é ser cego e gostar de tudo o que uma série faz e é ter senso crítico pra saber onde ela acertou e errou e, ainda assim, gostar dela no final das contas.

    Enfim, bom texto. ^^

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    1. Obrigada Rafael!! Pois é, não podemos deixar nosso gosto atrapalhar nossa visão, nenhuma série nem filme é impecável... e as pessoas ignoram fatos como o que você lembrou, de toda a ação se passar em poucos dias. Enfim, obrigada novamente.

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    2. Essa observação sobre tudo ter acontecido em tão pouco tempo foi boa, notei isso também, o único momento justificável sobre tudo isso foi no final, onde Jax tinha um APB nas costas e tinha que fazer tudo aquilo o mais rápido possível.
      Concordo em partes com o comentário e com a matéria, mas ainda sim, gostei até mais que breaking bad, me identifiquei muito com a serie e apesar de também não ter gostado de algumas coisas, não é nem pouco próximo de ser suficiente a me fazer deixar de gostar.
      Boa Nat!

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  3. Esta série é uma ficção não é real os acontecimentos, as pessoas tem a mania de entrar a fundo nos personagem, então gente isso é FILME é ficção não viagem na maionese!

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    1. Mas em nenhum momento eu disse que era real. Porém é uma série realista, não é uma série de fantasia ou coisas do tipo, por isso podemos, sim, analisar os personagens como gente real. Qual o problema de fazer essa análise? Ninguém está viajando na maionese. Se fosse assim, não existiria crítica literária, de cinema etc, já que é tudo ficção né?

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  4. Não assisti; alguma coisa me dizia que seria exatamente o que seu texto demonstra: violenta de um modo idiota, 'fetichizando' um modo de vida que certamente não é o que parece. Obrigado pelo texto, pois ficarei longe da série.

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    1. Oi Alex! É, bom, essas foram minhas impressões, mas como eu disse, realmente é muito violenta, se você não gosta muito dessa abordagem nem assista mesmo viu. Obrigada por comentar!

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  5. Olá, comecei e terminei a série recentemente (terminei dia 02/10/2015) e adorei toda a série, acho que de fato a qualidade cai bastante na sexta temporada e inclusive eles parecem não encontrar "vilões" bons para colocarem de frente com o MC tanto que matam um após o outro e simplesmente vão jogando mais pessoas que não fazem diferença nenhuma, eu havia percebido o aumento exponencial de violência na séria mas isso nao havia me incomodado até ler seu texto (muito bem escrito por sinal, parabéns) a morte da Tara me pareceu justificavel sabendo quem a Gemma era desde o começo da séria a maneira com que foi posta é que foi meio demais mesmo, afogamento e garfo na nuca é meio demais, eu tento não idolatrar nada pois acho isso algo meio negativo mas, estou realmente apaixonado pela série e a maneira com que terminou pra mim foi perfeita (principalmente os quatro ultimos episodios que são um popurrí de tudo que a série sempre nos mostrou), estou overexcited ainda no momento então tentarei comentar algo mais quando eu conseguir pensar mais sobre e olhar pra trás com mais clareza, no momento ela é minha série favorita ever de todos os tempos mas, seus pontos e argumentos foram perfeitamente colocados e consigo, de fato, vê-los nas duas ultimas temporadas

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    1. Oi Ramon! Realmente, como pra vocês está muito recente, é bem normal ainda não ver tudo com clareza, como você diz. Mas obrigada por entender meus pontos e participar do blog! Se pensar mais sobre a série e tirar novas conclusões, venha me contar :D Abraço

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